terça-feira, 13 de dezembro de 2011

voar, voar, subir, subir

Um dos melhores sonhos pra se ter enquanto se dorme é o de que você está voando. A sensação é muito boa e relaxante.
Mas, nem tudo é perfeito em sonhos que se voa. Estava tirando meu cochilo da tarde (pq trabalhei cedo, acho que mereço e tbm não devo satisfação da minha vida pra ninguém) e sonhei que estava voando. Mas resolvi voar justamente enquanto acompanhava a sessão da assembleia legislativa e acabei expulsa, pode?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

me desmascarando

O texto que vou escrever agora deve ser o mais difícil da minha vida. Estou adiando passá-lo da cabeça para o computador há um bom tempo e, por isso, acredito que vou botá-lo pra fora da forma mais rápida que puder, sem ligar muito para as regras gramaticais da boa língua portuguesa. é só isso, um desabafo, o vomito do que vem me atormentando há dias. Provavelmente vou ter esquecido de umas boas verdades que precisava dizer para mim. Mas ai vai:

Tudo começou em uma aula que estava fazendo dia desses. O professor pediu que todos fizessem a proposta de um projeto que gostariamos de por em prática. Um dos meus colegas sugeriu fazer uma série de perfis sobre os fracassados, já que estamos tão acostumados a falar só de quem alcançou o sucesso, seja lá o que isso signifique.

Acontece que a primeira coisa que eu pensei foi: eu tenho um personagem, meu pai. Na hora, isso passou meio desapercebido porque, pro meu inconsciente já deveria ser algo banal. Saí da aula angustiada e não sabia direito o que tanto estava entalado na minha garganta... rebuscando um pouco os fatos do dia, me dei conta. Eu sempre pensei, mas nunca admiti, em palavras (sejam elas faladas ou escritas) que considerava meu pai um fracassado.

E isso doeu, doeu pra caralho, no fundo do meu peito e parece que retorceu minhas entranhas. Baseada em que eu considerava a vida dele um fracasso?
Além da ficha cair, estava chegando o aniversário dele, de 60 anos. Pior do que me basear em alguma coisa pré-estabelecida e irreal de sucesso, eu percebi o quanto essa vergonha (é duro, mas a palavra é essa) que eu sinto pelo suposto fracasso do meu pai, me afasta dele. O quanto eu sou absurdamente babaca ao tentar ao máximo me afastar e colocar na minha cabeça que tudo que ele fala não passa de bobagem. Quando foi que eu virei a pessoa mais foda do mundo pra julgar alguém assim?

Por que eu acharia ele um fracasso? Porque ele teve um bom emprego, perdeu em uma briga, foi embora pra Guarapuava, onde sempre morou em uma casa no terreno dos meus avós por parte de mãe. Por que abriu infinitos negócios, nas mais variadas áreas, nos mais variados nomes, afundando todos, inclusive o meu??
Quem foi que disse e como foi que eu acreditei que ter sucesso é ser bem sucedido na vida??

Desde então, e já fazem umas três semanas, eu tenho remoído esse ódio e esse desprezo... contra mim

A verdade é que não existe fracasso... muito pelo contrário. Eu sempre achei meu pai meio megalomaníaco, super empreendedor mas um péssimo administrador. Também vivia me fazendo promessas que sabia que não poderia cumprir, mas hoje eu tenho certeza que, se ele pudesse, cumpriria todas. E, não fosse esse perfil que, só agora, eu considero de um sonhador - nada mais nem menos que isso - eu nunca teria saído de Guarapuava, nunca teria estudado porra nenhuma, nem conhecido tanta gente bacana que hoje faz parte da minha vida. (E apesar de tudo isso, continuo pensando pequeno assim).

Mas como eu pude, depois de tudo, olhar pra ele de cima, com desprezo, como se fosse melhor que ele?? O que faz a gente pensar assim, o que na vida faz a gente se transformar em algo tão desumano e mesquinho e egoísta??
Eu queria ter essa resposta e acho que, assim como essa verdade estava guardada em um canto bem escondido de mim, deve estar por aí, se esfregando na minha cara de vez em quando, se revelando nas minhas atitudes, sem que eu consiga ver.

Eu me senti um mostro, me sinto ainda, por ter pensado, em algum momento, que ele foi um fracasso.
Pelo contrário, ele nunca desistiu, mesmo que seus negócios dessem sempre errado. Apesar de esperto, ele era ingênuo demais, bom demais. Sempre ajudando a todo mundo, sem perceber que estava afundando. Porque só agora eu entendo tão bem esse lado tão humano, meio durão, mulherengo demais e ao mesmo tempo tão, mas tão frágil... assim como todas as outras boas pessoas do mundo.

Eu até lembro mais ou menos a época que eu descobri que meus pais não eram perfeitos. Mas quando foi que eu deixei de entender que ninguém é? Quando vc passou a ser obrigado a ser e eu a me achar a uma porcaria de perfeita de merda??

A questão é que há algum tempo eu recebo qualquer conversa dele na defesa, pensando sempre que ele está errado, sem mesmo parar para ouvir o que ele tem a dizer, me afastando como se isso me livrasse de uma carga.

Pois nesse bendito dia, em que eu me dei conta de como encarava a situação, foi que entendi qual era a carga que eu carregava em relação a você. Eu tinha medo de ser como você e me entregar a qualquer coisa ou atividade como se elas fossem as melhores coisas do mundo e viver o hoje como se o amanhã estivesse muito, mas muito longe e não ter medo de erras, porque apesar de longe o outro dia era sempre um recomeço e você sempre tinha uma ideia genial e tudo era tão leve e tão absurdo e tão diferente de todo o resto que o resto pensava ou sequer podia imaginar.
E, se algum dia você ler isso daqui, primeiro tenha vergonha de mim, mas apenas por cinco minutos. Depois, tenha pena de mim, porque eu não passo de uma fraca Aline. E isso é horrível. É horrível perto de você que sempre foi tão forte e sonhador e despreocupado e verdadeiramente desprendido de tudo o que os outros pensavam ou falavam de você - inclusive em relação a mim.

Depois, me abrace e diga que me ama, mesmo eu sendo assim, desse jeito torto que seu sou, como se eu fosse aquela criança gorda e tagarela e encha as bochechas de ar para que eu dê socos para esvaziá-las e de gargalhadas de criança, quando eu via você sem essas minhas máscaras que inventei pra mim.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

em janeiro chove muito

"A tua saudade corta
Como aço de naváia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
E os óio se enche d'água
Que até a vista se atrapáia, ai..."

Eu cheguei numa tarde ensolarada. Vinha carregando uma mala e a saudade de casa. Como sempre você saiu na janela assim que ouviu o barulho do carro se aproximando. Da mesma forma, que em 99.9% das vezes que eu voltava, você me esperava com café, pão e um bolo comprado na padaria, que fica logo ali, pertinho.
Você sempre ia com uma bolsinha, desses moedeiros, um chinelo de dedos, uma blusa larga, na maioria das vezes florida e uma saia. Lembro de tantas vezes que te vi voltando, reconhecia de longe aquela cabeça branca e o jeito de andar firme e ao mesmo tempo tão frágil. Quando eu te acompanhava até o mercado, tinha que controlar os passos, sempre que me dava conta estava andando rápido demais... indelicadeza a minha, mas juro que não percebia. Me perdia nas conversas e, quando via, já estava no ritmo habituado da correria do resto dos meus dias.

Dessa vez, eu queria tudo igual, mas de alguma forma diferente. Queria ter a chance de viver cada visita como se fosse a última. Coisa que não fiz por não acreditar que a despedida seria necessária, que ela um dia existiria. Pelo menos não assim tão cedo, tão de repente. Se parar pra pensar, ela de fato não existiu.

Eu iria me sentar e tomar café... comer seu pão com margarina e doce de frutas, misturado mesmo. Você ia me perguntar como eu estava, quais as novidades, como estava no trabalho, e a giuli? e o rubão? e meu pai?
Então, você me mostraria os tapetes que estava fazendo agora... ia tentar me convencer a achar aqueles com borboletas coloridas os mais bonitos de todos. E eu ia dizer que prefiro os mais discretos, com uma cor apenas no contorno do tapete, igualzinho aquele jogo que você me deu dia desses.

Saindo da cozinha iríamos pra sala... então eu sugeriria algo diferente. Vó, vamos para o quintal? O dia está tão bonito, vamos nos sentar lá nos fundos e conversar um pouco, deve ter alguma sombra gostosa onde a gente possa ficar.
Meio contrariada, me achando esquisita, você ia tentar alguma desculpa, dizer que os mosquitos iriam nos atacar, mas no fim aceitaria, achando graça.

E a gente ia conversar sobre coisas que nunca falamos antes. Você lembra quando eu rolei da escada? Eu não lembro exatamente, mas tenho um flash de você correndo atrás de mim, a imagem é de ponta cabeça... não sei por que, enfim.
Vó, você lembra daquela sua cadeira, que ficava ao lado do fogão a lenha? Ela era de madeira e tinha assento de palha, mas na verdade de palha não existia mais nada, apenas uma almofada que era segurada por um fio de metal. Era a sua cadeira para sentar ao lado do fogão a lenha, enquanto você tomava chimarrão.

Eu queria tanto que você me ensinasse coisas básicas da cozinha... eu nunca entendo quando você fala que um forno não é bom para isso ou para aquilo. Só sei que quando você fala, o forno não presta mesmo. E a impressão que eu tenho é que você sabe mesmo antes de usá-lo.

E o pierogue de feijão, queria tanto que você me ensinasse a fazer a massa e, principalmente, aquele recheio. Falar em feijão, foi dias desses que eu te liguei perguntando quanto tempo cozinhava o feijão na panela de pressão. Você disse que dependia do feijão, se fosse velho demoraria mais, se fosse novo, seria rapidinho, 30 minutos? Só sei que meu primeiro feijão ficou sem caldo, mas no segundo eu já aprendi, agora até que fica comestível, mas não chega nem perto do seu.

Eu tenho tantas curiosidades, tantas perguntas que nunca fiz a você. Como você conheceu o vô? Foi amor à primeira vista? Vocês precisaram fugir? Digo, sem dúvidas, que você era a jovem mais linda que eu já vi. Esses seus olhos azuis, esse nariz delicado. O Vô foi um cara de sorte... nós também!

Lembra quando eu e a Vanessa (minha prima) íamos dormir na sua casa? A gente gostava de ficar acordadas até tarde, você ensinava a gente a rezar e no outro dia a gente acordava cedinho, com o vô. Ele fazia chimarrão pra ele e pipoca pra gente... 5 h da manhã.

Eu pediria pra deitar no seu colo. A última vez que fiz isso deveria ser bebê. Faz um carinho? Sabe vó, acho que eu nunca falei isso antes, mas eu te amo. E te amo muito! É difícil encontrar gente tão boa igual você nesse mundo. E sabe, eu me sinto tão segura aqui, como se nada nem ninguém pudesse me fazer mal algum.

Lembra quando eu passei no provar, antes de ir embora? Estávamos no quarto eu, você, a mãe e a Giuli. Eu vi o resultado e eu e a Giu subimos na cama e começamos a pular. Eu lembro de você extasiada, quase pulando. Aquela cena é tão terna, você ficou tão feliz por mim que eu quase choro quando lembro. Mas ficou engraçadinha, querendo pular, mas se segurando, sabe como?

Ah! Eu adoro essa sua gargalhada, principalmente porque ela é tão sincera que as lágrimas correm. Aí você tira os óculos para secá-las. Como eu gosto dessa risada!

Sabe uma coisa que me deixava irritada? Eu odiava carregar guarda-chuvas e toda vez que eu ia sair de casa e você gritava:
- Tá levando guarda-chuva? Vai chover já, já!
- Ah! vó, não vai não, olha esse sol.
- Eu to avisando, leva o guarda-chuva.
Na maioria das vezes eu não levava, claro. Fazia parte da rebeldia adolescente e da preguiça de carregar um trambolho. E era batata. Toda vez que você me avisava, eu não obedecia, chovia e eu me molhava. Eu falava:
- Praga da vó que falou que ia chover e eu não trouxe guarda-chuva.
Era praga coisa nenhuma, hoje eu sei. Era só cuidado de vó. Não existe hoje nenhum meteorologista com a mesma capacidade de prever chuvas que você.

Posso pedir uma coisa? Deita no meu colo agora? Deixa eu fazer um pouco de carinho em você, mexer no seu cabelo branquinho. Sabe, tudo que eu queria era estar aqui com você naquele dia. Ok, todo mundo fala que não ia mudar nada, que foi fulminante e que você não deve ter sentido nada. Mas, jura que não sentiu? Eu só queria estar com você, nem que fosse pra você deitar sua cabeça no meu colo e dormir tranquila, assim.

Sabe o que? Toda vez que chove eu lembro de você. Seu jeitinho de me avisar da chuva foi a primeira coisa que me veio na cabeça quando eu soube que você tinha ido embora. E eu fiquei com tanto medo, medo de esquecer você, esquecer seu jeito, sua voz, seu olhar, sua gargalhada. Medo de deixar que o tempo te leve cada vez pra mais longe e te apague da minha memória. Eu não quero te perder.

Agora, quando chove, eu sei que é você. Fazia tanto tempo que eu não sentia um prazer tão grande em sentir os pingos da chuva na minha pele. Mas agora eu sei que é você e isso me consola, diminui um teco a dor e o vazio que ficaram. É como se a água escorrendo fosse um abraço gostoso.

Em janeiro chove muito, mas dessa vez é diferente. São suas lágrimas, mas as lágrimas da sua gargalhada!